03 04 2023 – 18 anos da Gabriela

Minha filha caçula, você está fazendo dezoito anos.

Como sempre sonhei, é universitária, graças a Deus. E federal.

Você tem coisas que eu não tive – e fico muito feliz por você, em relação a parte boa dessa situação.

Tempos outros, alegrias outras, dificuldades outras – mas você tem se saído muito bem.

Forte, resiliente, determinada, focada.

Bem mais virtuosa do que eu, mas é como deve ser: filhos melhores do que os pais.

A meu favor, somente o tempo – o tempo nos dá vantagens, pela construção de conceitos e opiniões baseadas na vivência; nem sempre agradável, mas sempre educativa.

Mas você cada vez mais será alguém melhor do que eu – como tem que ser.

Aos dezoito anos eu já pensava em ter filhos. Só pensava. Sabia que não deveria ter.

Totalmente desprovido de condições, teria sido uma situação de muita provação. Trazendo experiências para o bem e para o mal.

Para alguns, dá certo; nunca sem dificuldades, mas realmente dá certo.

Para outros, um desastre que desestabiliza a vida de todos – pra cima e para baixo.

Mas sempre se ajeitam – a falta da opção muitas vezes já aponta a opção a ser seguida.

Mas eu não tive filhos aos dezoito. Fiquei somente no sonho, com os pés fortemente fincados no chão.

E “meu bebê”, você que hoje faz dezoito anos, chegou quando eu já tinha boa parte do que eu almejava na vida. Na verdade, em certos aspectos, até mais do que eu esperava.

Alguns pilares da experiência adulta tinham bons alicerces, embora a construção dessa coisa chamada vida não se encerra nunca, durante nossa passagem.

Quebra, conserta, repara, remenda, troca… vamos seguindo – dia após dia do nosso tempo e missão.

E “meu bebê”, você chegou quando eu já começava a ter a percepção que estava mais para a segunda metade do que para a primeira…

E trouxe alegria e ânimo novo, me dando perspectiva sem me deixar esquecer a realidade.

E vi você crescer, falar, caminhar, estudar, dançar, estudar e muitos outros “-ar” da vida; nós viajamos, nos tratamos, nos divertimos, nos estressamos, rimos muito, choramos eventualmente, e temos trilhado juntos essa caminhada por vezes tão imprevisível chamada vida.

Já falei para você que conto o tempo pelas minhas filhas – não vi meu pai envelhecer, idem para minhas irmãs, sobrinhos e amigos. A televisão do tempo para mim sempre só teve um canal – minhas filhas.

Nem a mim, eu via. Às vezes, a vida me sacode, me lembrando que aquele menino magrelo, serelepe e de cabelos pretinhos, há muito tempo deu lugar para esse adulto com sobrepreso, dores nas juntas e cabelos grisalhos.

E a gente avalia o quanto da vida deu certo, e sonhamos com os filmes de ficção onde os protagonistas tem chance de voltar e fazer somente as escolhas certas.

Mas isso não é possível – não se pode fazer um novo começo, embora sempre se possa traçar um novo fim, já dizia Chico Xavier.

Mas, mesmo olhando os caminhos difíceis que se fez na vida, ao mirar vocês, filhas, vem sempre um pensamento de que tudo valeu a pena.

Na vida, algumas coisas faríamos igualzinho de novo; outras, não. Exceções a se contar em uma das mãos, aqueles que não tem nenhum arrependimento na vida.

Pouca sorte de vocês, já que talvez eu nem seja um bom pai; mas que eu sempre as quis; mesmo eu, um libriano vacilante, nunca tive dúvida.

E hoje, “meu bebê”, você faz dezoito anos. 

Ainda tenho alguns anos, hoje rezando basicamente por uma boa saúde e determinação para poder mantê-la, mas a frase “meu trabalho está feito” vive martelando minha cabeça…

Ainda posso ser útil para vocês, mas, junto com sua mãe, alimentei, cuidei, eduquei, orientei, tratei e outros tantos “-ei” da vida, por todos esses anos.

Agora, vocês são maiores, vacinadas, universitárias, inteligentes e cada vez mais sábias e equilibradas do que eu – o que nem é missão tão difícil assim…

E assim, minha caçula, você chega aos dezoito anos.

A expressão corriqueira é “um ponto de virada” – mas eu sou “de exatas”, e a parábola da sua vida ainda está bem no começo da subida…

Mas, “meu bebê”, cada vez mais novas experiências virão, e saiba experimentá-las com coragem, temperança e bom senso.

Das mil coisas que disse para você, pegue aquela meia dúzia onde eu tenho razão, e separe aquelas três que servem para sua vida, e nunca as esqueça.

Mas, se você tiver que lembrar somente uma coisa desse montão que eu falei ao longo desses anos todos, lembre dessa: “Amo você, minha filha”.

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