Minha esposa vai fazer uma pequena cirurgia amanhã.

Minha esposa vai fazer uma pequena cirurgia amanhã.

Tenho dito repetidas vezes que tudo vai dar certo. Que a cirurgia é simples. Que será feita no melhor cenário possível: sem ser de urgência, fora de qualquer crise, e sim de forma preventiva e planejada.

Como argumento conclusivo, lembro a ela que eu mesmo fiz – e ela me acompanhou, viu tudo acontecer – e deu tudo certo, e passados quase dois anos, é apenas uma lembrança do passado.

Mas ela está assustada. Natural. Ela é humana, e todos temos nossos medos. Muitos dela passam pelas coisas que ela entende como suas tarefas não concluídas, particularmente em relação a nossas filhas.

Minha esposa é boa em muitas coisas: esposa cheia de amor, profissional competente, guerreira firme nas desventuras da vida, esteio moral para muita gente, mas como mãe é uma das facetas que mais me impressionam e causam admiração.

Mas digo e repito que vai dar tudo certo. E vai dar mesmo.

O momento é de certa tensão, claro, pois não se pode “fazer pouco” do receio de alguém, ainda mais de alguém que se ama. Empatia é uma habilidade única, e por mais que se tente, é sempre a pessoa que tem a noção perfeita de seus sentimentos.

Mas não deixo de pensar em como ela tem uma fé forte, uma crença na justiça divina, uma certeza na justa paga das coisas. Tem Deus como maior, mas as vezes está dando pulinhos pela casa, agradecendo a São Longuinho por alguma coisa encontrada, tudo pautado em uma fé por toda a família celestial. Sabe que todos os santos zelam por ela.

Mas, nessa hora, ela está assustada. Perfeitamente normal. Perfeitamente humano. Mas vai dar tudo certo.

Iria dizer uma daquelas frases que bem se aplicam, tipo “um dia vamos lembrar e ainda rir disso“, mas neste caso, nem sei. Vai correr tudo bem e talvez nem lembremos de nada…

Ou talvez lembremos depois de comer uma cebola gigante do Outback, quando então nos olharemos e diremos: “Ai, meu Deus, será que fará mal?

Mas aí será tarde demais, e como não fará mal nenhum, nos pegaremos caminhando de mãos dadas, não mais pensando na cirurgia que já será passado, mas sim procurando um quiosque do Sorvete Itália, para a sobremesa…

Vai dar tudo certo, minha esposa. Estarei lá quando você entrar e estarei com tudo arrumado no quarto quando você sair. 

E no outro dia, sairemos de lá, caminhando devagar, mas aliviados pela obstáculo vencido e alegre pelos dias que virão.

Amo você.

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