Crônicas da vida – a chuva do dia de São José

Hoje é dia 19 de março. Do ano de 2022.

Alguns não sabem, mas 19 de março é o dia de São José.

Para mim, filho e neto de cearenses, essa data sempre foi minha velha conhecida.

Meus parentes sempre falaram desta data.

Se chovesse no dia de São José, era garantia de safra boa.

Se não chovesse… a vida segue.

Meu pai faleceu nesta data, há cinco anos.

Para mim, foi como se não tivesse chovido no dia de São José.

Prenúncio de tempos difíceis, de chuva pouca, de colheita modesta.

Me lembrei que meu pai sempre me prometeu o sol se o sol saísse.

Que não há opção senão encarar a realidade como ela se apresenta.

Mas que ele estaria lá; não importando quanto de sucesso ou revés estivesse no meu caminho.

Mas tudo tem seu tempo determinado, e o tempo previsto para ele, expirou.

A constatação da orfandade é um momento muito difícil.

Lembro com saudade, sim, mas com muito respeito e admiração pelo meu pai.

Curioso, pois ele nunca pareceu correr atrás da admiração.

Meu pai viveu em absoluta conformidade com suas crenças, valores e vontades.

Isso é um privilégio para poucos, creio eu.

Fez o que pode, e ao não poder, não se lamentou.

Pelo menos, não comigo. 

Teve gente ao lado dele, sempre leal e presente – um privilégio para poucos, creio eu.

Mas até onde pude ver, não lamentou.

Fosse por limitações materiais ou pela firmeza de suas convicções.

Um “não”, não mata ninguém.

Entristece sim a quem o recebe, mas fortalece.

Ensina a achar caminhos, a abrir portas, a enfrentar batalhas, a vencer dificuldades.

Meu pai me ensinou a viver.

Me deu o sol nos dias em que o sol saiu.

Me proveu o que eu realmente precisava, dentro dos limites que ele podia.

Não fez todas as vontades, não satisfez todos os desejos, e eu tive que aceitar as limitações.

Não, não foi fácil na hora.

Mas ele fez o que pode – e se alguém o fez fazer algo que não quis, este alguém foram os filhos e netos.

Mas quando o limite chegava, seja por impossibilidade ou desejo pessoal, era respeitado.

Na minha meninice, com a tristeza da pouca visão juvenil; na vida adulta, com um respeito e admiração que o tempo nos traz.

E hoje, cada vez mais, com um respeito pelas escolhas dele.

Em muitos dias, em datas como esta, peço a Deus para encontrá-lo. 

Mas o anjo da guarda vem logo no meu ouvido e diz “explica que é em sonhos!

Sim, tem coisas que ainda não fiz. 

Ainda há feijão para plantar, ainda há feijão para colher.

O pai morreu dormindo, como acho que morrem os bons.

Isso é um privilégio para poucos, creio eu.

Então, Deus, mesmo que eu não entenda, obrigado por tudo.

Pelo que foi, pelo que é, pelo que será.

Pelo ano da safra modesta, pelo ano da safra abundante.

E viva São José, como gritariam os nordestinos.

Quem sabe, Deus, você escuta aí, e nos manda uma chuva boa.

De trabalhar, não temos medo!

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