Crônicas da vida – E se minha mãe estivesse viva?

E se você não tivesse morrido? Como teria sido? O que teria sido diferente, ao longo da vida e hoje? Você me ajudaria, seria presente na minha vida? Eu amaria a senhora incondicionalmente, fosse a senhora como fosse? Ou eu faria juízo de valor, ou apenas amaria, como um filho deve amar a mãe? 

Minha esposa diz que você cuidaria mais dos filhos das minhas irmãs. Talvez, mas ela julga isso baseado em “como nós somos”. Mas a senhora seria como nós? Acho que a senhora seria melhor. E mesma as meninas, minha esposa pouco conhece. Nunca viu a Marlucinha e passou apenas dez dias com a Marli. Ela me conhece, mas eu não sirvo de referência para este tipo de comportamento. Afinal, eu não sou mãe. Nem mulher eu sou… 

Claro que eu trocaria muita coisa para que a senhora não tivesse partido. Sempre a tive e senti perto de mim, sobre a forma de uma mão tranqüila que me acalmava a cabeça nos momentos mais críticos, sobre a forma de uma onda de calor que me encobria quando o coração estava comprimido pela angústia, como um sopro do vento junto a orelha inspirando uma resposta quando a pergunta me embotava os sentidos. Sou grato a Deus por isso, mas eu vi na vida várias mães e filhos. Eu vi como é. E admirava, mesmo vendo as eventuais agruras deste relacionamento. Algumas me “adotaram”, mas eu sempre quis deixar este lugar vago. 

A única coisa boa da senhora não estar aqui, se isso é possível, é poder sonhar. Poder idealizar. Nos meus sonhos, a senhora me ajudaria muito, ouvindo quando eu precisasse falar, sem criticar com acidez, mas não deixando eu prosseguir no erro. Amaria minha família e meus filhos como seus, sendo a avó alegre dos momentos festivos e a avó presente dos momentos necessários. Seria bonita, mesmo que os anos cobrassem o seu inevitável preço. Choraria de emoção com a nossa felicidade e seria a fortaleza na beira do mar, onde todos nos arrebentaríamos quando as ondas fossem mais fortes que nós. 

Viveria muito, me emocionaria vê-la chegando e saindo da minha casa, cuidando do que os mais novos jamais saberão cuidar. ((Mãe, não fique triste nem emocionada em excesso. Eu sinto aqui em baixo.)). Esse é um luxo que eu posso me permitir: idealizar. Este direito ninguém me rouba. Muito me foi roubado, e um dia entenderei por que. Mas essa pequena “alegria” eu posso. 

Olhe pra gente de vez em quando, mas siga seu caminho. Ele há de ser de luz. Visite-me nos sonhos, me aqueça de vez em quando, sopre sabedoria no meu ouvido, fale comigo se Deus permitir. Eu sigo meu caminho. Sabe, mãe, eu não fui tão mal. Poderia ser melhor, mas não fui tão mal. Tenha orgulho de mim. Papai tem. 

E quando eu chegar, esteja lá.

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