Crônicas da vida – Para a minha filha que vai nascer

Nosso presidente é Luis Inácio Lula da Silva, nossa moeda é o real, um dólar está valendo 2,70 reais, o Santos é o campeão brasileiro de futebol, papai está com 38 anos, pesa 115 quilos, tem diagnóstico de diabetes tipo II já confirmado, sem tomar os devidos cuidados sobre isso. 

Mamãe tem 32 anos, suas irmãs, Glória e Amanda, tem 7 e 4 respectivamente. Sua mãe é a grávida mais linda do mundo, embora ela não acredite nisso. Hoje é um dia típico de inverno da reunião norte, onde moramos hoje, em Belém. Chuva intermitente ao longo de todo o dia. Sua irmã Amanda acabou de entrar aqui pedindo cinqüenta reais, pois a avó vai levá-las ao McDonald, para comer um McLanche. Quem dera eu tivesse: dei vinte e fiquei sem um tostão. Dureza… Mas isso passa… 

Escrevo isso num computador Pentium IV 2.8, com 256 MB de memória e 40 GB de disco rígido, um disco rígido de 7200 rpm. Processador de texto Word 2000. Temos uma conexão Velox banda larga de 256 Kbp/s. Não sei se você vai gostar ou se interessar por informática, mas escrevo estas coisas para depois ver, ao longo do tempo, como as coisas evoluem… 

Hoje é dia 12 de março de 2005. Se o seu pediatra, o Dr. Allan Rendeiro, não tiver errado nas contas, daqui a um mês você estará nascendo. Sua mãe acha que não dá, que vai ser antes, mas a desde a semana passada, estamos monitorando, consulta toda semana e ultra-som com Doppler a cada duas semanas. Nada de surpresas é aceitável quando estamos tratando do nascimento de um filho nosso. 

As coisas estão diferentes nesta gestação, minha filha. Estamos mais relaxados, no sentido positivo. As vezes me culpo por isso, mas lembro que quando sua mãe estava grávida da sua irmã Amanda nós tínhamos passados por uma experiência muito difícil, que foi a perda de um bebê. Sua mãe abortou espontaneamente com pouco mais de dez semanas. Foi uma coisa muito difícil, filha. 

Agora não. Estamos mais tranqüilos, em todos os sentidos. Você já vai nascer na sua casa, que no momento ainda está em construção (e parece que ainda ficará assim por mais algum tempo…), mas já há de te prover um bom conforto e estrutura. Quando sua irmã nasceu, morávamos num apartamento na Avenida Senador Lemos, que era nosso, mas era pequeno, e nem tinha garagem. 

Quando eu e sua mãe casamos (nós completamos cinco anos de casados no dia 03 de março próximo passado), sua irmã Glória era pouco mais que um bebê, não tinha nem três anos completos, e nem colchões e travesseiros tínhamos para abrigar completamente nossa nova família que se formava. Uma noite, Glorinha rolou por baixo da cama e sumiu. Sua mãe quase enlouqueceu… 

Com você, não. Seu berço, que foi da Amandinha (mas está em excelente estado, coisa boa…) já está arrumado há duas semanas, sua mãe mandou ajeitar umas portas aqui em casa para que você possa descansar em silêncio (Glórica é quieta, mas Amanda é “fogo na jaca…”), temos boa parte do seu enxoval comprado. Trouxemos coisas até de Petrópolis… 

Seu nome, minha filhinha, ainda está em aberto. Alguns nomes sua mãe não gosta, outros eu, estamos convergindo para um consenso, mas nem vou escrever, pois depois a gente muda… O importante, filhota, é que amamos você e estamos nos estruturando, nossa família e nossa casa, para recebê-la com tudo que você merece. 

Por um ligeiro empurrãozinho da sua mãe, acabamos de comprar um carro novo. Nosso primeiro “zero”. Um Fiat Siena Fire, um bom carro. O carro que tínhamos antes, um Volkswagen Logus (que eu carinhosamente chamava de “Azulino”) era um bom carro, mas envelheceu. Também, até tijolo ele carregou… 

Você pouco precisará sair de casa nos primeiros dias, mas se tiver que sair, irá no conforto que merece. Sua mãe “forçou” a compra deste carro por sua causa, suas irmãs e eu apenas desfrutaremos, mas este carro foi comprado principalmente por sua causa. Você está podendo, hein, filha !?! Quando você tiver três anos, teremos acabado de pagá-lo… 

Sua prima Vitória andou passando uns dias aqui em casa, pois ela levou uma queda muito feia lá no interior onde eles moram, e ela veio para cá para fazer uns exames e ficar em observação. Fazia tempo que eu não ficava perto de um bebê. Ela tem dez meses no momento que escrevo isso. O “meu bebê” era sua irmã Amanda, já uma bela menina de mais de quatro anos. Tão grande e bonita, como seguramente você vai ser, que quando tive que carregá-la no colo em Brasília, fazendo uma conexão já tarde da noite quando voltávamos do Rio, quase que eu boto meus bofes pra fora… 

Pois é, a presença de um bebê me fez sentir mais vontade ainda do seu pronto nascimento. Calma, não se apresse, falta um mês… Vontade de  deixar você dormir em cima da minha barriga (está maior ainda do que na época da sua irmã…), observar que você está reconhecendo minha voz, sentindo você apertar o meu dedo com sua mãozinha pequena, todas estas coisas de bebê… 

Depois, começar a ensinar a bater palminha, o que é cabeça, joelho e pé, assistir junto trinta vezes em trinta dias o dvd da Princesa Aurora (na época da Glória, era fita de vídeo cassete, a tecnologia está andando muito rápido…), e coisas assim. Seu pai é um homem meio rude, muitas vezes grosso, mas vou acabar ficando bom nesse negócio de criar menina… 

Aí você vai crescer, e vai pra escola junto com suas irmãs. Alguns dias, como elas, nem vai se despedir de mim no portão. Não fará festa quando eu entrar em casa, mas me gritará para ligar o computador pra você ou para pegar água. De vez em quando até dirá que o papai é pão-duro, brigão, egoísta e outras coisas do gênero. 

Isso dói muito, mas os filhos da gente têm crédito. Mas se você me amar do jeito que eu sou, e de vez em quando me der um pouco de carinho e um sorriso doce, tudo terá valido a pena. E mesmo se você não der, mesmo assim tudo terá valido a pena do mesmo jeito… 

Eu te amo, filha. Papai está esperando. Venha bem. 

Papai.

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