Ao visitar meu pai, sempre costumava dar uma volta pela vizinhança, aproveitando para rever parentes e amigos da infância; esses encontros ocasionais sempre renderam boas conversas, regadas pelas lembranças de tempos alegres e eventualmente até dos difíceis, todos partes do caminho que construiu a trajetória de nossa vida.
Certa vez, tinha acabado de sair da casa de meu pai, e vejo aquele negro forte dobrando a rua. É um colega de infância, jogávamos bola juntos, daqueles que a gente via quase todo dia. Mas eu não consigo me lembrar do nome dele. Só lembro do apelido – Bingala – que ele nunca gostou muito. Me esforço, mas nenhum nome me vem a cabeça, só o apelido: Bingala, Bingala…
Ele me vê. Perfeitamente alinhado em suas mangas compridas, ele me reconhece e abre o seu melhor sorriso, enquanto caminha na minha direção. E agora, o que vou fazer? Ele é um homem adulto, já não gostava do apelido quando era menino, imagine agora… Como vou conversar sem falar o nome da pessoa… O que que eu faço?
Ele se aproxima e me dá um abraço. Ante minha pavidez, ele fala: “O que foi, Carlinho, não está me reconhecendo? Sou eu, Bingala!”
Ufa! Conversamos uma boa meia-hora, lembrando dos amigos comuns e das diversões da meninice. Outro abraço e nos despedimos.
Aí eu dobro a rua e lá vem “Cu de Apito”. Acompanhado de uma mulher, provavelmente sua esposa, e de duas menininhas de uns seis anos, gêmeas…
Mas esse eu lembrava o nome: Sérgio.