Gabriela, 15 anos

Hoje, minha filha caçula Gabriela está fazendo quinze anos.

Minha avó Rosália chamava meu tio Pascoal, já um homem feito, de “Neném”. Eu chamo minha filha, ocasionalmente, de “meu bebê”.

Minha filha parece não se incomodar. Que bom, pois para os pais, certas coisas nunca mudam.

Mas na vida, muda. 

Minha filha caçula, hoje fazendo quinze anos, é uma pessoa em eterna mutação.

Lembro bem daquelas mudanças que pude ver, dos dentinhos brotando até os dentes alinhados, da dança infantil até a dança clássica da bailarina, da menina quieta no banco de trás até a adolescente que centraliza atenções.

Mas muito mais existe que não posso ver. Felizmente, vivemos juntos desde sempre, mas a vida tem fases, e esta fase é aquela que o encanto do pai herói se esvai um pouco. Depois volta, mas nesse momento, a curva é para baixo…

Os interesses dela são específicos, os grupos de afinidade divergem, os assuntos pessoais ficam em um universo que destoa do meu. Tudo bem, é assim mesmo.

Eu aceito que agora eu seja o pai anacrônico, chato, resmungão, que às vezes até tenta ser engraçado, muitas vezes sem sucesso. Que mastiga certos sonhos, que não entende certas necessidades, que não consegue entender a intensidade de certos desejos.

Mas minha filha segue feliz, a despeito das dificuldades que a vida vai botando na vida das pessoas. Isso chama-se crescer, e ela parece entender isso bem, enfrentando cada dificuldade conforme ela surge, com estratégias pessoais que não consigo acompanhar mas que dão certo.

Meu pai estava entre nós quando as maiores fizeram quinze anos. A gente sempre quer os pais conosco, mas me resignei ante os desígnios divinos e sabia que ele poderia não estar entre nós nos quinze anos da Gabriela.

Que minha caçula saiba o que meu pai me fez saber desde sempre: “vá, tente, descubra, experimente, vivencie, explore; e se algo der errado, eu e tudo que posso te dar, mesmo que seja pouco, estará sempre aqui.

Gabriela é mais forte do que eu. É mais inteligente do que eu. É mais determinada do que eu. É mais segura do que eu. Fatalmente, será maior do que eu. 

A mim, cabe formá-la do melhor jeito que posso, dar a condição que a vida me prover, e principalmente deixá-la saber – pode não ser grande coisa, minha filha, mas enquanto Deus permitir, estarei aqui na retaguarda, para que você dê seus passos, sem medo.

Feliz aniversário, minha filha.

Toda a felicidade do mundo para você.

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