A name with no horse

Sonhei que estava em uma estrebaria, andando pelos corredores da mesma, distraído.

Chovia copiosamente lá fora; o cheiro de terra molhada era forte, além de outros odores característicos do local.

Me vi parado em frente a uma baia, onde havia uma placa com um nome, mas não havia cavalo.

Fui acometido de um pensamento divertido. 

Nos anos 70, havia uma música de muito sucesso chamada “A horse with no name”.

Agora, eu estava na situação de ter “a name with no horse”.

Porém, pensei que um dia teria vivido ali um cavalo com aquele nome.

Mas que agora não estava mais ali.

Isso acontece para todos.

Uma vez, em uma estação de trem, eu e meu pai fomos enganados por um sapateiro, que cobrou por algo que acabou não fazendo.

Eu, criança, disse para deixar pra lá, que não valia o atrito. Seguimos.

Sinto o meu pai, quando imerso em questões de conflito, me parece ter alguém botando a mão no ombro e dizendo: “não fale nada, não vale o atrito.

Meu pai foi motorista durante quase a totalidade da sua vida profissional. Dois acidentes, sem nunca ser o culpado.

Uma vez, ele me disse que estava com pressa, e eu falei “pai, pode correr, eu não tenho medo.

Ele “mandou o sapato” na Avenida Brasil. O pai era hábil, mas eu senti muito medo…

Sinto o meu pai, quando em uma reta livre, sozinho, acelero desnecessariamente, e de repente reduzo sem nem pensar, como se alguém me dissesse “você não deve correr desse jeito”.

Meu pai passava na frente do CEFET, com seus passageiros – no final da vida profissional, ele era taxista – e dizia “meu filho estuda aí”.

Muitos contavam para ele que seus filhos tinham tentado, mas não tinham conseguido.

Ele nunca tripudiou, mas me disse, com suas palavras, que brilhava por dentro.

Sinto o meu pai, quando após uma palestra, reunião ou um problema usual do dia-a-dia, alguém elogia a minha atitude naquela situação. Sinto um brilho de alegria que excede a minha própria satisfação.

Sempre que eu ia de férias, ele me pegava no aeroporto e íamos conversando; uma vez, em um momento difícil, eu fiz uma pergunta que ele não sabia responder.

Não era questão de estudo; era questão de vida, do porvir.

Ele não me enrolou: disse, com as palavras dele, algo do tipo “eu não sei se vai dar sol ou chover. Mas com sol ou com chuva, eu estarei lá.

Sinto o meu pai, quando as coisas dão certo ou dão errado, e seja como for, eu sinto aquele empurrão no sentido de continuar caminhando, sem me deixar empolgar pela vitória ou me abater demasiado pelo revés. 

Todo mundo se vai, esta é a lei.

Sempre fiz internamente uma analogia entre as crianças e a evolução: infantil, pré-escola, fundamental, médio, superior.. a cada etapa, novos níveis de aprendizados.

E também entre os pais e Deus: ensina, perdoa, ajuda, ampara…

Então, que o “ir” seja apenas mudar de nível. 

E que Deus esteja por lá, junto com os pais, organizando as coisas.

E que haja novos locais para encontros.

Ou melhor, reencontros.

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