Encontros com o Mestre – Existe um céu para os juízes?

“Sabe, mestre, eu estava pensando sobre este jogador espetacular que faleceu…”

“Sim, um prodígio com a bola nos pés, sem dúvida…”

“Pois é… envolvido com vícios, alguns pesados, filhos não reconhecidos, coisas assim…”

“Não é o primeiro dos gênios que na vida particular não é um primor de regramento.”

“Pois é… as pessoas idolatram, mesmo com todas as falhas, e aí eu fiquei pensando: existe um céu para os juízes?”

“Como é que é?”

“Sim, um céu para os juízes. Os árbitros, que procuram fazer seu ofício certo, bom e discreto, mas nem sempre com reconhecimento…”

“Mas, assim como os astros, muitos juízes tem a vida pessoal sem rumo…”

“Eu sei, eu sei… mas na minha analogia, estou me restringindo as quatro linhas… quando o juiz faz tudo certo e mal aparece, ao final ele trabalhou bem… mas sem reconhecimento, muitas vezes.”

“Você não pode comparar o juiz restrito ao campo de jogo com a estrela em todos os enfoques da vida. Não é justo.”

“Eu entendo…”

“Mas sei onde você quer chegar. O não reconhecimento pelos que trabalham corretamente e em silêncio em contraponto a festa efusiva aos meninos tortos, com a vida cheia de falhas.”

“É por aí… é que comecei pensando no funeral do craque, e fui me perdendo…”

“Entenda algumas coisas: o torcedor é fanático. E na vida, muitas pessoas, em diferentes níveis, também o são. 

Não mensure sua felicidade pelo reconhecimento alheio. Ele pode não vir. Simplesmente, pode não vir. 

Não agora, não tão cedo, não de quem você espera.

Sobre o céu dos juízes… existem diferentes moradas na casa do Pai, e muitas delas podem ser chamadas de céu… mas céu dos juízes… não, talvez não exista. 

Mas o juiz é uma pessoa, como todas as outras. E para todos, existe um lugar. Um bom lugar.

Aliás, de certa forma, existe um céu dos juízes… na verdade, de todas as pessoas: dentro dela. Quando o equilíbrio e o entendimento das coisas vai chegando, esse céu vai se tornando real, para ela..”

“É um alento…”

“Sim, mas tenha em mente que a plenitude é um direito de todos. Então, o céu maior deve ter de tudo, de forma plena: amor, afeto, reconhecimento, satisfação… só é um longo caminho.”

“Deve ter?”

“Sim, claro. Eu não cheguei lá. Nós não chegamos, ainda.”

“Sim, deve ser um longo caminho, mesmo… mas pelo menos, esse entendimento nos dá perspectiva, certo?”

“Sim. Vivenciamos pequenos progressos, as vezes. O sofrimento desta é o salvo conduto para não vivenciar a mesma atribulação em uma próxima oportunidade.”

“Se a experiência é bem aproveitada…”

“Sim, claro. De que vale um juiz honesto, um passe perfeito do seu companheiro, se você insiste em chutar pra fora?”

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