Diário de um mafioso – Memória afetiva

Contexto histórico, novembro/2020:

  • Polícia faz uma megaoperação em Duas Barras, município de 12.000 habitantes
  • Assalto cinematográfico em Criciúma, Santa Catarina
  • Eduardo Paes eleito prefeito do Rio de Janeiro.
  • O centro administrativo do Rio, construído na antiga zona do meretrício, é chamado de “Piranhão”

“Chefe, bom dia.”

“Bom dia, Azul. Antes de abrirmos nossa pauta oficial, quero fazer uma reclamação com você…”

“O que foi, chefe, o que foi?”

“Calma… no final, tudo acabou bem, mas vocês estão usando demais o Google…”

“Não entendo, chefe…”

“Eu mandei gerar uma distração na terra do Martinho, porque eu precisava dar condição para a retirada de uma pessoa de interesse do Pedro Ernesto…”

“Pedro Ernesto? Mas…”

“Pois é! Vocês foram bater em Duas Barras, terra natal do Martinho! A operação era pra ser em Vila Isabel!”

“Puxa, chefe…”

“Tudo bem, acabou dando tudo certo. Outra equipe fez o serviço. E o nosso associado dos postos de gasolina ainda ganhou um extra, abastecendo as viaturas que tiveram que subir a serra, em regime de urgência.”

“Que bom, chefe. Sobre o curso que o senhor mandou dar…”

“Sim, como foi?”

“Um sucesso! O pessoal adorou as técnicas ensinadas! O pessoal das antigas disse que eles não aprendiam nada tão útil desde que eles ficaram presos com os subversivos e aprenderem que estourar carro forte era melhor do que roubar banco…”

“Caramba… coisa dos anos setenta… estavam defasados, mesmo…”

“É… e deu de tudo: estrangeiro, novato, deputado…”

“Pois é… quero ver se aprenderam… mande escolher uma pequena cidade do interior e usar tudo: grande número de veículos, explosivo plástico, armamento pesado, bloqueio das unidades policiais, muito barulho em vários pontos diferentes, etc.”

“Sim, chefe. Direi que é o trabalho de formatura.”

“Que seja. E avise à turma: nenhuma vítima fatal. Nenhuma. E nada de patrimônio pessoal. O alvo tem que ser corporativo, de preferência com tudo segurado.”

“Tudo bem, chefe, tudo bem… E sobre a política?”

“Azul, nós não temos partido. Nós estamos sempre do lado que ganha.”

“Ok. Já estou jogando fora a bíblia e tirando meu chapéu de Zé Pilintra do armário… Alguma orientação?”

“A princípio, deixa ele a vontade… pode fazer o que quiser… derrubar a ciclovia, reformar a ciclovia, o que quiser…”

“Ok, chefe. ficarei de olho.”

“Só não pode uma coisa: mexer no Centro Administrativo.”

“Direi, chefe… mas, posso saber por que?”

“Memória afetiva. Junto com o “Balança mas não cai” e o “Pedregulho”, acho um dos apelidos mais bacanas da cidade…”

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