Crônicas da vida – Bravura é um conceito relativo…

Era a metade do mês de novembro, e senti uma dor no peito enquanto trabalhava. Começou depois do almoço, e parecia a dor da piada: só doí­a quando eu respirava… Dorzinha fina, chata, persistente… Fui pra casa ao término do expediente e me deitei, na esperança que a dor passasse. Não passou. Por episódios como o do Bussunda e outros, quem tem, tem medo. Lá pelas oito da noite, acolhi a sugestão da minha esposa, e fomos para o Hospital Porto Dias. Se fosse pra ter um troço, que fosse dentro do hospital. Atendimento de urgência. Só um médico no turno. Três pessoas na minha frente. Se essa é a urgência, imagino os outros casos… A médica nos atendeu, e depois de alguns testes, só atestou alteração de pressão: 16×10. Mas me encaminhou para um exame de sangue, eletroencefalograma, radiografia do tórax e medicação.

Lá descobri porque o comprimido sublingual de pressão fica embaixo da lí­ngua. Achando que estava demorando a dissolver, fui mexê-lo com a lí­ngua e… Jesus, o troço tem um gosto horrí­vel!!! Daqueles de você ficar fazendo careta de forma incontrolável… Mas a barca segue: para ministrar um remédio em forma lí­quida, uma agulha foi enfiada no dorso da mão esquerda, e começou o “pinga-pinga”. O enfermeiro conseguir achar a veia na mão já foi um pequeno suplí­cio, mas o que se seguiu foi pior: a pressão despencou, 10×6. Um mal estar horroroso, uma suadeira danada, e ânsia de vômito. Minha esposa chamou o enfermeiro, e ele disse: “é assim mesmo, respire fundo que vai passar e caso vomite, faça neste cesto.” Respirar era uma orientação desnecessária, convenhamos. E acertar o cesto uma orientação impossí­vel. Eu, se começasse a vomitar, ainda iria ficar brincando de “tiro ao alvo” ? Mas rapaz… A única boa desse stress foi que nem senti quando tiraram sangue no braço direito.

O fato é que acabei melhorando mesmo, e finda a medicação, seguimos para a radiologia, onde enfrentamos nova espera. Com todos os exames, voltamos a médica, que disse que se fosse enfarte já teria aparecido no exame de sangue, onde nada acusou, tal qual o EEG. Ficou então a suspeita de algo muscular. Liberados, compramos um remédio e fomos pra casa. Nos dias seguintes, a dor no peito sumiu, mas senti dor na base da coluna. Márcia, minha esposa, comprou um anti-inflamatório, desconfiada no nervo ciático, e me aplicou um “Salonpas”, um adesivo com anestésico ou coisa do gênero, tipo “Emplastro Sabiá”. Melhorei um pouco, e ao fim do dia, resolvi tirar aquilo da minhas costas. Sou um homem com bastante pelo no corpo. Rapaz… quando puxei, aquele troço veio com uns cento e cinquenta gramas de pelo… vai doer assim na baixa da égua, como dizia vovó… Achei que tinha enfrentado com bravura e galhardia todas as furadas, raspadas e picadas do atendimento médico. Agora, vejo que brava é minha esposa, de vez em quando está no salão fazendo depilação…

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