A limpeza

            Estavam andando numa rua, em um local extremamente ermo, a noite. Como de hábito, não tinha idéia de como chegara lá, mas sentia-se tranquilo e calmo, pois estava acompanhando o seu mestre. Ansiava sobre o que o ele falaria hoje. 

            Mas o mestre prosseguia em silêncio. Mais a frente, próximo a uma ponte, viu um movimento numa das bases da mesma. Um vulto esgueirava-se pelas sombras, aparentemente tentando acomodar-se no limite do conforto que aquelas condições permitiam. 

            Era um homem. Seu corpo era uma imensa mancha de lama. Os cabelos embaraçados e compridos, barba de meses. Unhas grandes e sujas. Suas roupas eram trapos que se confundiam com a sujeira do corpo. Era uma visão extremamente desagradável. 

            Então o mestre falou: “o que você acha?” E ele respondeu “É, esse irmão está numa situação extremamente ruim, mas…” Mas o mestre o interrompeu: “Fale a sua primeira impressão. Seja honesto com você!” Um pouco constrangido, mas entendendo onde o mestre queria chegar, ele disse: “Puxa vida, ele parece um bicho!” 

            E o mestre disse: “Admita seus pensamentos como ele são, e julgando-os imperfeitos, trabalhe em cima deles. Você pode enganar muitos a sua volta, mas nunca a consciência que mais te afeta: a sua. No mais, esperemos.” 

            E assim o fizemos. Passados alguns minutos, um grupo apareceu. Eram evangélicos, ou algo do gênero. Após rápida conversa, o andrajo aceitou acompanhá-los. Embarcou numa kombi e foi para o abrigo mantido pelos religiosos. 

            Lá, ele tomou um banho. Cortou e penteou os cabelos, tirou a barba. Aparou as unhas e vestiu roupas limpas. Quando ressurgiu, era outro homem. A limpeza propiciara uma incrível transformação. 

            E antes que ele dissesse algo, o mestre disse: “sinto sua vergonha, mas não se puna. É normal. Muitas vezes não conseguimos ver a criatura por baixo da sujeira que a reveste. E dela nos afastamos, sem nada fazer ou sequer pensar que ela não nasceu assim.” 

            E prosseguiu: “Mas hoje quero falar sobre oração. A oração sincera é a higiene do espírito. No caminho, vamos nos sujando das mais diversas formas. Outrossim, em qualquer tempo, a oração sempre vai propiciar eficiente limpeza em nossa alma. Ore. Ore sempre. Por si e pelos outros. A oração é um permanente banho de luz e esperança.” 

            E assim o mestre o fez pensar sobre isso.

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