Encontros com o mestre: Sempre há algo mais a aprender.

singingMonkCaminhavam a noite, por um local bem escuro. Como de hábito, não havia preocupação ou medo, apenas o prazer daquele contato ocasional. A tranquilidade vem da  confiança no mestre, e não raro os locais fazem parte de qualquer aprendizado que venha daquela interação. Conversavam sobre a dificuldade e até uma certa ansiedade por não conseguir dividir com mais gente as coisas aprendidas, lamentando a pouca chance de falar mais, de ser ouvido, de ter uma plateia, de dividir a mensagem com mais gente.

O mestre recomendava paciência, e enfatizava a máxima muito conhecida que diz que quando o trabalhador está pronto, o trabalho aparece. E destacava que ainda há muita coisa para aprender, visto que o conhecimento invade a alma humana das mais diversas maneiras. E conhecimento é somente uma das vertentes, há muito o que se aprender em relação a moralidade, a filosofia, as relações entre os entes; ou seja, há tanta coisa há para alcançar, mesmo que já se comece a dividir.

O mestre apontou para uma pequena porta, e eles entraram. No espaço, a escuridão era ainda mais intensa, e com muita dificuldade notavam-se vultos, acocorados, muito próximos do chão, aparentemente com seus corpos envoltos em mantos e a cabeça coberta por um capuz. Muito pouco se via, apenas os vultos em curto movimento, balançando suas vestes e se movimentando lentamente, como se fossem se arrumar. O mestre em total silêncio apontou para um canto e fez um gesto que ele se sentasse. E assim, ele fez.

E de repente, com que a um comando de um maestro, ele começou a ouvir a música mais linda já ouvida por ele. Vindo somente da voz daquelas entidades, vinha a melodia mais harmoniosa que ele já ouvira. Ele sonhara em ouvir algo assim, mesmo sem ter ideia do quão bonito podia ser. Era como se Deus estivesse cantando para eles, face a harmonia, a doçura, a musicalidade, o enlevo que aquele som trazia. Era um deleite ouvir. Era algo além do que ele podia sonhar, mesmo ele que sonhava que havia lugares onde o vento fazia música ao passar pelas árvores. E ele desfrutou daquele prazer, daquela beleza, magnificada pela pouca luz, que fazia com que toda a atenção ficasse dedicada à audição, com o mínimo de distrações.

Quando fez-se o silêncio, após alguns minutos que ele nem conseguia mensurar, face ao enlevo do evento, o mestre apontou para a porta e eles saíram.

E o mestre lhe disse: “Esse pequeno espetáculo foi só para você ver que ouvir é um grande privilégio. Na verdade, é um dom maior. Dedicar sua atenção genuína para as habilidades do outro é um ato de extrema generosidade, além de um campo enorme de aprendizado. Consegue visualizar algo mais altruísta do que dar o outrem exatamente o que você desejaria receber ?

Eles continuam caminhando pela noite escura, em silêncio desta vez. O mestre já falou que muitas vezes a semente precisa de um tempo quieta na terra, para poder florescer.

Mais a frente, outra porta. O Mestre manda ele entrar. Ele se empolga – “Deus, que maravilha me vai ser apresentada agora ?

Havia algo diferente no novo ambiente, mas ele se comportou da mesma forma do anterior, visto que já sabia se portar – sentou em silêncio, no canto, sob o olhar atento do mestre.

E começou a cantoria – um horror. Pareciam porcos guinchando, pareciam mil pessoas sendo torturadas da forma mais violenta possível, um grupo de vozes berrando, cada uma em uma direção. Se socorrendo aos olhos do mestre, ele vê que o mesmo tinha um pequeno sorriso no rosto, e já apontava para a saída. Apressadamente, eles saíram.

E o mestre falou: “Eu te trouxe aqui só para você entender que muitas vezes, não precisar ouvir  já é um grande privilégio, muitas vezes negligenciado. Há tempo e importância para tudo; para falar, para não falar, para ouvir e para não ouvir. A sabedoria – e boa parte da felicidade – está em saber com conquistar cada tempo desse em nossa vida.

 

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