Encontros com o mestre – sozinho, nem sempre solitário

Uma tarde comum. Uma praça. Muitas pessoas. Ele ia perguntar alguma coisa, mas o mestre fez um gesto com a mão, dizendo que esperasse.

De repente, um artista começa a tocar um instrumento. As pessoas olham, mas o som não chega a ser familiar. De repente, mais um se aproxima dele, pega seu instrumento e o acompanha. E mais um, e mais um, e mais um. As pessoas começam a parar para olhar. As crianças se encantam. A música se torna conhecida, mesmo para os leigos.

De repente, muitos músicos, vários instrumentos, um pequeno coro, um espetáculo inusitado ao ar livre, um pequeno show imprevisto ao ar livre, em uma tarde despretensiosa.

Todos assistem impressionados, inclusive ele. Aí o mestre o tira do seu enlevo, mostrando a ele um homem em particular – “É alguém que gosta de maneira muito particular desta música.

Balbuciou – “Mas ele não está…”. “Sim“, respondeu o mestre. “Mas o nascimento não é o início, muito menos o túmulo é o final. Quando permitido, as pessoas se aproximam do que gostam. As vezes é permitido mesmo sem ser para coisas boas – é o mesmo fundamento da obsessão, por planos que por vezes estão além de nossa compreensão. Mas também é a base para aproximações prazerosas, baseadas em muito amor“.

Lembra quando você era jovem, e na noite de Natal, a meia-noite, você ia para sua casa, mesmo sem ter festa lá, pois não queria passar o momento de Natal na casa de outras pessoas? E você sentava naquele banco embaixo daquela árvore, e ficava ali sozinho, ouvindo os festejos alheios por dez, quinze minutos, mas surpreendentemente você não ficava triste? Você estava sozinho, mas não estava solitário.

Alguém que o ama muito, mas que não podia mais estar com você, sentava ali ao seu lado, do mesmo jeito que fazia antes, naquele mesmo banco. Com muito mais clareza de pensamento, com muito mais luz para te dar, mas com o mesmo amor de sempre.

Tranquilize o seu coração, e o de quem mais você puder. Até hoje é assim: quando necessário ou simplesmente na alegria, quem nos ama está conosco. Eventualmente você pode estar sozinho, mas não deixe a tristeza tomar seu coração, pois nem sempre você estará solitário. Não é a mesma coisa, mas que te sirva de alento. Tenha fé no porvir.

E assim, voltaram.

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Crônicas da vida: Isto aqui ô ô é um pouquinho de Brasil, iá iá…

Isto aqui ô ô
é um pouquinho de Brasil, iá iá…

Ary Barroso ficaria desgostoso, se estivesse ao meu lado no domingo próximo passado.

Estava no supermercado, aguardando minha vez para pesar algumas frutas que eu estava comprando. No local de pesagem, dois funcionários conversavam, um deles a funcionária encarregada da pesar os alimentos.

O rapaz reclama que estava sem telefone, pois deu defeito na bateria, pela segunda vez. A colega da balança pergunta se não foi a mulher dele que quebrou, por causa das safadezas dele, mas ele diz que não, que ele tinha pago pouco pelo aparelho – era apenas um produto barato sem qualidade.

Ele continuou, dizendo que acionou os seus “contatos”, para arrumar um de “segunda mão”, mas não tinha aparecido ainda.

A colega diz que indicaria um ponto da cidade onde sempre tem, mas as coisas “estão devagar” por lá. Alega que estão assim porque roubaram o celular de um militar e a polícia anda “dando dura” por lá a semana toda…

Um pouquinho de Brasil: existência de produtos de má qualidade vendidos já na certeza do mau funcionamento, pessoas tanto maledicentes quando desleais, naturalidade na receptação de produtos roubados e eficiência policial somente com motivação corporativa. Tudo isso em menos dois minutos…

Temos que ser mesmo de uma raça, que não tenha medo de fumaça e e não se entregue, não, pois está difícil ter fé no Brasil…

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Biografia de Gabriela

Sim, ela tem apenas nove anos. Mas precisei fazer uma biografia para um trabalho escolar dela, e gostei do resultado. Os professores também… Assim, publico aqui.

“Gabriela nasceu no dia 03/04/2005.

UnknownApressada, esta menina. Era para nascer no dia 06/04, mas se antecipou e nasceu no domingo, dia 03. Gostei da data – 03,04,05. Sinal que a vida dela vai ser um eterno crescente.

Passeadora, esta menina. Em maio de 2005, com apenas um mês e meio, fez o seu primeiro passeio. Fomos, toda a família, dar um passeio no aeroporto da cidade – lugar refrigerado, coberto, seguro e com fácil estacionamento. Até então, Gabriela tomava seus banhos de sol em casa, e apenas comia e dormia. Um bebê saudável e tranquilo.

Saudável, esta menina. Mas precaução nunca é demais… Com maior ênfase e frequência ao longo do ano de 2005, mas sem interrupção por todos os anos seguintes, Gabriela tomou todas as vacinas, e fez todos os seus exames e cumpriu todas as consultas regulares com pediatras e afins.

Festeira, esta menina. Em abril de 2006, Gabriela fez seu aniversário de um ano, rodeado da família e de algumas pessoas mais próximas. Muitos presentes, muita alegria e muitos doces!

Viajante, esta menina. Em abril de 2006, fez sua primeira viagem, indo ao Rio de Janeiro, para que os avós paternos pudessemUnknown conhecê-la. Lá conheceu os avós, tios, tias e primos. Mas também conheceu o frio!!! Embora fosse meados do outono, ela pegou menos de quinze graus na serra carioca!!!

Fluente, esta menina. Em agosto de 2006, cunhou sua primeira frase (“Cadê papai ?”), quando o pai saiu para buscar os resultados de um exame da irmã mais velha. Ela fez toda a família feliz com a fluência verborrágica demonstrada!

Viajante, esta menina, de novo. Em dezembro de 2006, fez sua primeira viagem em família, para Fortaleza, Ceará. Tomou banho de praia, piscina, passeou, bateu fotos, conheceu a cidade. Depois, não parou mais: Rio de Janeiro, Gramado, Canela, Curitiba, etc.

Artista, esta menina. Em fevereiro de 2007, começou a fazer aulas de balé, revelando um talento e uma facilidade natural para esta forma de expressão artística. Com pequenas interrupções, tem procurado encaixar esta atividade na sua corrida rotina.

Estudante, esta menina. Em março de 2008, começou a estudar no colégio John Knox. Lá sempre teve um excelente desempenho, fez grandes amizades e absorveu um aprendizado de conhecimento básico que vai acompanhá-la por toda a vida.

Foto_Dia_2012-11-17 10-54-38Artista, esta menina, de novo. Em julho de 2009, participou de uma peça de teatro no seu então colégio John Knox, tem excelente desempenho. Ficou plantada a sementinha da interpretação, retomada em 2014 no grupo de teatro do colégio Ideal.

Poliglota, esta menina. Em março de 2011, começou o seu curso de inglês, no CCBEU. Demonstrou uma grande facilidade para língua estrangeira, tendo excelente desempenho, tendo inclusive conseguido uma progressão de um nível, por estar além do nível de conhecimento que a idade a colocava.

Artista, essa menina, mais uma vez: em dezembro de 2012, apresentou-se em seu primeiro espetáculo de balé, em uma apresentação organizada pela escola de dança Bodytech , em espetáculo bastante concorrido e de grande sucesso, realizado no teatro do Gasômetro.

Inteligente, esta menina. Ao longo de 2013, conseguiu rendimento máximo em todas as matérias da escola, em todos os bimestres. Gerou imenso orgulho aos pais, que postaram em redes sociais o boletim repletos de notas dez da Gabriela. Aprendeu que o aprendizado é o mais importante, mas viu que o reconhecimento do sucesso e os afagos pelos bons resultados são sinal de justiça.Foto_Dia_2014-01-21 06-47-52

Pessoa de fé, esta menina. Em janeiro de 2014 iniciou seu curso de catecismo, na igreja Santo Antônio de Lisboa, onde segue seu aprendizado para em futuro breve cumprir mais um dos sacramentos católicos, a crisma.

Vencedora, esta menina. Em janeiro de 2014, mudou de escola, começando no colégio Ideal, onde se ambientou sem dificuldade, fez um grande círculo de amizades, tem tido excelente rendimento e onde está construindo uma história de muito sucesso, amizade e aprendizado.”

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Encontros com o mestre – De nederlandse hond (o cão holandês)

Fazia um tempo que eles não se viam. Mas como companheiros de muitos anos, rapidamente estavam ambientados novamente. Essa é a mágica das grandes amizades.

Caminhavam por um lugar estranho. Não era surpresa para ele: não raro o mestre assim o fazia. Cada lugar tem um conhecimento, uma história, uma tradição, algo a nos ensinar. E a casa do pai tem muitas moradas, lugares que ele sequer conseguiria idealizar, dizia o mestre…

Mas este era estranho, mas não era difícil identificar, mesmo sem ter nunca estado lá. Os canais, gente morando nos barcos, as flores, os tamancos, os museus… moleza.

Pararam na esquina de um bairro aparentemente residencial. Mas no mesmo espaço onde moravam as pessoas, outras pessoas se divertiam em bares ao longo da transição entre a tarde e noite.

Em frente a algo tipo uma mercearia, um cachorro observava o movimento impávido. O cão holandês. Ele observava o ir e vir das pessoas, umas apressadas, outras em ritmo mais lento. Senhorinhas a caminho de seus credos religiosos, jovenzinhos a caminho de suas baladas noturnas. E o cão lá, postado, como que em uma missão militar de preservar seu posto.

Em uma porta em particular, os jovens se acumulavam em uma inquieta fila. Os sorrisos se ouviam a distância, embaladas pelo frescor da juventude, da leveza das obrigações e pela liberalidade da cidade. Amigos esperavam sentados na calçada a chegada dos mais atrasados, numa divertida conversa. Outros já entravam para participar da festa.

Ouvia-se ao longe as manifestações de auto-exaltação, de realizações feitas e de sonhos futuros, da sorte do passado e da confiança nos dias que virão. Da plenitude de suas vidas e de seus sonhos e planos. De como eram maravilhosos aqueles dias.

O cão holandês permanecia impávido. Olhava ao longe aquele movimento, sem se alterar.

Nessa hora, ele olhou para o mestre. “Mestre, o senhor nem sempre é claro quando dá suas lições. Várias vezes inclusive me deixou sem entendimento. Em certos casos, só obtive respostas e compreensão anos depois. Mas desta vez está estranho: vejo claramente que este cão jamais irá a festas, fará projetos ou confraternizar-se-á com os amigos. Ele jamais entrará neste clube. O senhor quer dizer que algumas coisas realmente não são acessíveis para todos?

Nesse momento, saiu um menino da mercearia. Avental preso ao corpo. Rosto cansado de uma tarde de trabalho, depois de uma manhã de estudo. Ele olhou os jovens na rua. Por uma fração de segundo, uma expressão de tristeza veio ao seu rosto. Mas como que iluminado por um pensamento feliz, ele balançou a cabeça, sorriu, pegou o cão e entrou na loja.

E o mestre perguntou: “Por acaso você é um cachorro? Tenha paciência e fé.”

E eles voltaram. Ele queria mais, mas as vezes uma gota é o adequado, mesmo que a sede pareça imensa.

Paciência e fé.

 

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Crônicas da vida: O primo amigo

Nestes primeiros dias de 2014 tenho pensado repetidas vezes em meu primo Isaac, Isaac Farias.

Isaac foi o mais próximo que eu tive de um irmão na minha infância.

A vida me deu duas irmãs, Marli e Marluce. Amo muito minhas irmãs. Passamos por poucas e boas nesta vida, por dificuldades e alegrias, por altos e baixos. Ainda passamos, mas o fato de eu morar em cidade diferente da delas, diminui muito o nosso nível de interação. Para as coisas boas, mas também para as ruins. Eu, por exemplo, não sei o que é ter uma briga com minhas irmãs em toda a minha vida adulta… morram de inveja…

Com minhas irmãs, sempre que posso estar com elas, ou falar ao telefone, me esforço para que seja um “tempo de qualidade”. Não nos furtamos de tratar dos problemas, mas eu sempre foco na leveza e qualidade.

E eu me divirto muito com elas.

Minhas irmã mais nova sabe o preço de um ovo. Se a galinha bota um ovo de cada vez, porque não se pode comprar um ovo de cada vez? A gente ri disso…

Minha irmã mais velha me conta que certa vez foi a única passageira de um ônibus. Quem disse que ela jamais iria andar com motorista em um carrão exclusivo, com motor Mercedes? A gente ri disso…

Mas voltando ao Isaac, meu primo. Ele faleceu há alguns anos. Não sei a causa. Mas morreu jovem; ele era um ano mais velho do que eu. E ainda faltam alguns anos para eu chegar aos cinquenta. Logo…

Nestes primeiros dias do ano, ouvi muito uma rádio de internet exclusiva de Beatles. Eu gosto, mas Isaac gostava muito. No início dos anos 80, comprava discos (LPs de vinil) com seu parco salário de menor aprendiz do Banco do Brasil. Conhecia a história das músicas. Cantarolava algumas. Baixista da Assembleia de Deus, sabia replicar alguns arranjos de Paul McCartney.

Tenho minhas convicções religiosas, e acho que quem está “do outro lado”, fica feliz com a lembrança e pensamentos carinhosos. E, dentro de certos limites e permissões, se aproxima das pessoas queridas. Talvez meu primo tenha estado próximo estes dias. Não sei porque, mas isso também não importa.

Como falei, na infância, foi o mais próximo que tive de um irmão. Depois cresci e fiz amigos que também foram como irmãos, privilégio cada vez mais raro com o passar dos anos. Tenho excelentes amigos acumulados ao longo das vida, alguns deles também queridos como irmãos, mas na infância este cara foi o Isaac.

Quando pequenos, brincávamos em minha casa. Aquelas típicas brincadeiras de moleque: pique, corrida, carrinho, etc. Isaac chegava com seus irmãos (Abraão, mais velho e Ary, mais novo). Ao lado de minha casa, morava minha tia-madrinha, e meus primos menores, Geraldo e Marcos, também se juntavam a nós.

As vezes eles iam lá só para comer as goiabas, que nasciam generosamente em meu quintal, mas eu nem ligava. Gostava de tê-los lá.

Crescendo um pouco mais (bem pouco, na verdade…) começamos a andar juntos, pela proximidade da idade. Conto para minhas filhas que com sete, oito anos, tenho lembrança de ir de ônibus para a casa da minha vó materna, em Irajá. E sempre conto que não ía sozinho, ia com meu primo mais velho. Um ano mais velho… Esse primo era o Isaac.

Sequer alcançávamos os balaústres. Íamos nos esgueirando entre os adultos, apoiados nos bancos, Dependendo do horário, o ônibus estava incrivelmente cheio. Pessoas nos olhavam com um misto de surpresa, curiosidade e acho que até pena. “O que estes dois meninos mirrados fazem sozinhos no ônibus?”, imagino que alguns pensavam. Mas a gente nem ligava. Quando dava para sentarmos juntos, conversávamos animadamente. Quando víamos a fábrica de cimento, sabíamos que estávamos chegando.

Não passávamos “por baixo da roleta”. Mesmo magros, nunca “passamos juntos”. Nunca demos calote. Isaac tinha uma integridade que a despeito da igreja, acho que já nasceu com ele. Não sei detalhes da vida adulta dele, mas sempre o vi desta maneira. E ele nunca se mostrou diferente para mim.

No final da quarta série, participamos juntos do Festival da Canção da Escola IV Centenário, onde estudávamos juntos. Cantamos juntos a música “Menina dos olhos azuis”. Lembro que na criação da música, em cada estrofe, Isaac criava os dois primeiros versos, e eu me “virava” para criar os dois últimos, que além de rimar, tinham que fazer sentido…

Fomos muito aplaudidos. Aplaudidos por gentileza, pois provavelmente fomos um desastre… Não ganhamos nada, mas ficamos com essa lembrança divertida para toda a vida.

Já “molecotes”, gostamos da mesma menina. Mas nem isso criou conflitos entre a gente. Afinal, nenhum dos dois nunca teve coragem mesmo de chegar perto dela…

Adolescentes, ainda próximos, entramos numa fase de discussões. Mais ou menos na mesma fase que compartilhávamos a simpatia pela música dos Beatles, sua fé cristã era frequentemente confrontada pelos meus questionamentos, normalmente com fulcro na questão da vida extraterrestre e no lirismo dos ensinamentos bíblicos.

Mas nunca brigamos por causa disso. As vezes eu chegava empolgadíssimo, com uma questão nova sobre algum ponto bíblico, com meus livros de Erich von Däniken debaixo do braço, as vezes até acompanhado de alguns outros amigos, mas o Isaac nem se abalava. E nem se enervava. E assim, conversávamos por horas…

Mas com o crescimento, fomos  nos afastando. Nossos interesses divergiam, nos focos destoavam. Afinal, nós eramos pessoas diferentes. Muito diferentes.

Assim que a idade permitiu, Isaac entrou no Banco do Brasil, como menor aprendiz. As vezes eu estava jogando vôlei ou futebol depois da escola, e lá vinha Isaac, com o uniforme azul e sapatos Vulcabrás enormes, chegando do trabalho, Naquela época, nenhum dos meninos trabalhava. Um ou outro era “office-boy”. Mas o meu primo não: ele era menor aprendiz do Banco do Brasil!!!  E ele sempre parava e a gente conversava um pouco.

Com a vida, fomos nos afastando e nos vendo cada vez menos.  Entrei na Escola Técnica, e o estudo tomava quase todo o meu tempo. Lembro que nesta época um dos meus amigos me chamava de “Conde”. Kléber, o tal amigo, me constrangeu várias vezes me chamando de Conde, com uma seriedade enorme e um servilismo feudal, dentro de ônibus, em lanchonete, na praia, etc. As pessoas viravam o pescoço, olhavam intrigadas, etc. Mas ele me chamava de Conde por causa do Conde Drácula, já que eu só aparecia de noite!!!

Me formei no Ensino Médio, mudei de cidade e o resto é outra história: cursei Administração e Informática, trabalhei na Transjuta (uma empresa familiar), no grupo Importadora, no grupo Vale do Rio Doce, no grupo Telebrás e desde 1995 estou no Judiciário Federal. Me casei com a Márcia, tive minhas filhas, fiz minha pós-graduação, toquei minha vida.

Soube que Isaac tinha feito um concurso e estava trabalhando nos Correios, como carteiro. Pensei na figura daquele homem magro carregando uma bolsa pesada o dia inteiro, mas depois esqueci. Alguns anos depois, fiquei sabendo que ele tinha sido tirado do serviço externo, pois ele tinha “ombros caídos”. Nunca soube se isso era alguma molecagem dos irmãos ou se foi algum tipo de concurso interno ou promoção, mas a informação é que tinha saído das ruas.

Nunca mais vi meu primo Isaac. Quando ia ao Rio, de folga, ao andar pela vizinhança da casa de meu pai, de vez em quando encontrava os irmãos dele. Abraão, falante e simpático, me contava sobre todos seus projetos e sempre fazia questão de me levar em sua casa. Ary, mais reservado, normalmente me recebia no mercadinho que ele gerenciava, mas sempre fazia questão de me levar de carro em casa – “o pessoal não te conhece mais”.

Mas Isaac nunca mais vi. Sempre pensava – “na próxima vez eu falo com ele”.

E há alguns anos minha irmã me disse que Isaac tinha morrido. Foi um choque, mas como todos os outros na vida, assimilei e segui em frente.

Mas agora no inicio de 2014 lembrei dele. Ouvi músicas dos Beatles em sua homenagem, o incluí de forma especial em minhas orações, estou escrevendo um texto onde falo muito dele. Senti sua presença amiga perto de mim.

Que ele tenha encontrado o Deus que sempre adorou e chegado ao céu que descrevia com tanta convicção.

E que ele me veja hoje e tenha me visto no passado da mesma forma que eu sempre o vi: o primo amigo.

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